domingo, 23 de setembro de 2012

Ela...


Ela...

        Sentia-se sempre como alguém fora do lugar, como se o mundo tivesse se esquecido de preparar seu canto. Era bem mais que solidão, era como injustiça ver tudo o que queria sendo alcançado por quem jamais se importaria como ela. Era algo mais selvagem que raiva, algo que sempre ficava preso à garganta, porque não sabia o que fazer caso saísse. Via tudo de longe, todos os seus sorrisos já eram superficiais mesmo antes de sorrir. Importava-se com tudo, mas nunca se importava de verdade, nada tinha emoção o suficiente. Como um diário, sempre trancada, sempre escondendo suas emoções porque caso contrário, ninguém entenderia seu modo casual de ver os problemas mais horrendos. Simplesmente não eram nada impressionantes para ela. O mundo era só mais um lugar metódico e desajeitado. Já havia descoberto que para agradar era preciso mentir, que a verdade torna as pessoas especiais, mas não essenciais. Já havia desvendado o principal segredo da humanidade, havia descoberto que as pessoas preferem a mentira, preferem achar que está tudo cor de rosa quando na verdade, tudo está cinza. Mas não lhe fazia a menor diferença. Seu humor estava amargando e queria esfregar o que pensava, na cara de todos que conhecia, queria que isso os ferisse como ácido para que assim tivessem sempre a lembrança de quão hipócritas as pessoas podem ser. Sabia sempre onde alguém falava da boca pra fora, com inocência, com verdade ou com malícia. Mas todos gostam de se sentir os espertalhões e preferem jurar até a morte que sabem de tudo ou que são inocentes. Ela estava sempre observando que a vaidade coleciona adoradores, mas que a vencedora é a liberdade, que sempre prende os idiotas na sua ilusão de espontaneidade. 


A.  M. 19 de Setembro de 2012