Algum dia você vai olhar pra trás, vai perceber que
não precisava ir tão longe. Você queria ampliar seus horizontes. Eu tinha
milhões de janelas pra abrir e te mostrar. Talvez você perceba lá na frente,
quando possivelmente será tarde demais, que aqui era o seu lugar. Que eu jamais
te diria pra não ir, mas esperaria você voltar, assim como ainda espero, com o
coração na mão, sem saber quando vai ser a próxima vez de deixar pra próxima
vez a chance de nos transformar em “nós”. Eu não era sua melhor opção, sei
disso. Mas eu procuro te entender, e gosto tanto, tanto de você e das suas
loucuras, das suas piadas sem noção, de quando você tenta ser engraçado e
ninguém ri. Eu costumava me contentar em ser quem te dava os abraços de
consolo, até achei que poderia haver algo mais neles, quem sabe alguma segunda
intenção por entre as brincadeiras, nos momentos dúbios de mão-com-mão. Mas
não, era só o amigo exercendo seu papel de amigo. Só que eu já cansei desse
papel estúpido, pode fazer o que quiser com ele, dê pra outra pessoa, assim
como você fez com tudo de você que eu realmente queria, entregando pra quem era
visivelmente idiota demais pra aproveitar. E quando você finalmente deixar de
ser tão cego, eu já terei deixado de ser tão boba e terei enterrado e pisoteado
essa vontade de te ligar, de dizer todas as coisas que estão engasgadas na
minha garganta, já terei transformado em lenda a saudade que neste exato
momento me impulsiona ao mesmo tempo em que me entristece. E aí finalmente,
poderei te olhar nos olhos e desejar diplomaticamente que você tenha boa sorte
e uma boa vida, me virando em seguida pra ir embora sem olhar pra trás.